É natural de Braga e
fez formação no SC Braga mas, curiosamente, passou grande parte do percurso de
jogador e treinador no distrito de Viana do Castelo. Qual o motivo dessa
ligação?
Quando terminei o 12º
ano de escolaridade resolvi continuar a estudar e entrei no IPVC, Escola
Superior de Educação de Viana do Castelo. Depois, acabei por ficar a viver em
Viana do Castelo e isso foi determinante para o meu percurso futebolístico a
partir daí.
Ficou satisfeito com
o trajecto que conseguiu no futebol ou tem a sensação que podia alcançar outro
patamar?
É uma pergunta que me
deixa sempre uma sensação de insatisfação. Tinha o sonho de ser futebolista
profissional e consegui-o ser, ainda por cima, no clube da minha cidade, no meu
clube de coração. Os tempos eram diferentes, naquela fase era muito difícil os
jovens jogadores terem oportunidades. Eu fiz parte de um plantel com 30
jogadores!!! Isso agora é impossível. Acho que me faltou uma verdadeira
oportunidade para me afirmar no futebol profissional, na altura certa. Mais
tarde cheguei a ter uma proposta do Varzim, mas já era professor, jogava na A.
D. Os Limianos e queria estabilidade, pelo que optei não voltar a ser
profissional. Acabei por fazer um percurso pelos principais clubes do Alto
Minho.
Representou o Vianense,
Limianos, Neves e Monção. Qual o clube que mais o marcou?
De forma resumida,
que balanço faz do que viveu em cada um desses clubes?
Sem dúvida nenhuma que
foi a A.D. Os Limianos. Fiz parte da mais bela página da história do clube, na
época de 1993/94. Era um grupo fantástico em que tive o prazer de jogar com
grandes jogadores mas também conviver e fazer amizades para a vida.
Conseguiu-se um triângulo perfeito, direção, equipa técnica e
plantel.
Arrastávamos multidões, jogávamos muito bem e eramos falados por isso. A
segunda época também foi muito boa com uma grande classificação na 2ª B, tendo
liderado a tabela durante várias semanas. As duas épocas seguintes ficaram
negativamente marcadas pelo descalabro diretivo que levou a uma grave crise no clube.
No S.C. Vianense,
joguei uma época, emprestado pelo S.C. Braga a meu pedido. Foi uma época muito
boa, tendo o clube exercido forte pressão para a minha continuidade.
No Neves F.C. joguei
duas temporadas. A primeira foi muito boa. A segunda foi muito difícil. Acabei
por ter uma primeira experiência como treinador. A direção do clube pediu-me
para passar a jogador treinador. Aceitei apenas fazê-lo por uma semana até
encontrarem novo treinador. Nunca achei boa ideia conjugar estes dois papéis.
No Desportivo de
Monção foi a última época como jogador. Foi um ano difícil, que precipitou
definitivamente o final da minha carreira. Estava cansado e não era
fisicamente.
Em que momento
começou a pensar em ser treinador e como foi essa transição de deixar de jogar
para começar a treinar?
Desde muito cedo senti
necessidade de perceber o treino. Tirei o Curso de professor de Educação Física
e isso ainda me aguçou mais esse apetite. Com 25 anos já tinha o curso de 2º
nível de treinador de futebol.
A transição deu-se com
um convite do Rogério Amorim para o acompanhar como adjunto numa aventura no
Valecambrense. Eu estava desiludido com a época em Monção. Ainda lhe perguntei
se era para ir como jogador…
Como treinador
principal comandou apenas o Cerveira e Vianense. Como foram essas épocas de
treinador?
Após várias temporadas
como adjunto do Rogério Amorim, com quem aprendi muito, surgiu a hipótese de
treinar o Cerveira. Tínhamos começado a trabalhar há duas semanas no Desportivo
de Monção quando convidaram o Rogério para treinar o Cerveira. Ele recusou pois
tinha acabado de assumir outro projeto. No entanto, em conversa comigo disse
que seria uma boa oportunidade para mim. E foi assim que comecei. O plantel
tinha c qualidade embora os resultados estivessem longe de ser bons. O Clube
estava na luta pela manutenção. Acabei por fazer um bom trabalho fazendo aquela
que penso ser a melhor classificação de sempre do Cerveira na 3ª divisão. No
ano seguinte as coisas correram muito mal, quando as pessoas não são sérias é
difícil conseguir-se bons trabalhos. Acabei por sair no final da primeira volta
a 3 pontos da manutenção.
Nessa mesma época surgiu o convite do S.C. Vianense. A
situação era muito complicada. Faltava dez jornadas, seis jogos eram fora de
casa. O clube não ganhava há 3 meses. Os jogadores reponderam espectacularmente
à minha forma de trabalhar e conseguimos uma grande recuperação com a penas uma
derrota no primeiro jogo. Na época seguinte traçamos o objectivo de lutar pela
subida. Algumas contrariedades e azares dificultaram um pouco. Mas estava tudo
ainda dentro dos objectivos. A direcção achou que deveria mudar e assim o fez.
Acabei por sair.
Depois disso não
treinou mais nenhum clube. Qual a razão desse afastamento e se pensa em voltar
a treinar?
Não treinei mais nenhum
clube, porque mais nenhum clube me convidou. Se surgir um convite irei analisar
pois nunca assumi um términus da minha carreira como treinador.
Encontra semelhanças
entre as suas características como jogador e do seu filho Ricardo Bouças?
Sim. Em termos
técnicos eu era mais vistoso, ele mais completo mas é o fator técnico o que
mais se destaca nos dois. O porte físico semelhante dá-lhe elegância que diziam
eu também ter. Ele é mais aventureiro eu era mais líder. Ele tem excelentes
qualidades para ser um central de bom nível.
Melhor colega no
futebol?
Felizmente foram
muitos, não consigo destacar nenhum.
Sr. José Vieira na
A.D. Os Limianos, pela proximidade que tinha com os jogadores e pela humanidade
que sempre revelou.
Destaco dois, dois
“Rogérios”. O Rogério Gonçalves porque foi o meu primeiro “Treinador”, foi o
primeiro que treinava o queria que acontecesse no jogo. O Rogério Amorim porque
foi uma pessoa que subiu a pulso, muito estudioso, que pensa o futebol todos os
dias na procura do melhor exercício para determinado objectivo. Para além disso
é uma pessoa extraordinária.
Fernando Pires no meu
trajecto de formação.
Melhor momento no
futebol, como jogador ou treinador?
Como jogador destaco
dois. O momento da assinatura de contrato profissional com O S.C. Braga e o
Campeonato Nacional da 3ª divisão pela A.D. Os Limianos.
Como treinador
adjunto, a subida do S.C. Vianense à 2ª B e a salvação matemática do Vianense
na primeira época.
Pior momento no
futebol, como jogador ou treinador?
Como jogador foi ter
que tomar a decisão de abandonar a A.D Os Limianos antes da época terminar.
Como treinador foi ter
sido demitido no S.C. Vianense de uma forma pouco limpa.